Avanços da Meliponicultura apoiam a conservação de abelhas sem ferrão e da flora agroambiental no cerrado do Amapá
Por Richardson Frazão, Biólogo, Me
InfoNéctar nº005/18
“A criação de abelhas sem ferrão (Meliponicultura) em fragmentos de cerrado no Amapá, permite a conservação da biodiversidade de abelhas, o uso dos serviços ambientais regulatórios com a polinização em plantas nativas e de interesse agronômico. As abelhas estão cada vez mais evidentes no cotidiano da humanidade, em função da alta demanda por alimentos, para uma população a alcançar 9 bilhões de pessoas no mundo em 2030”.
Introdução
A Meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) no Amapá, avança positivamente sobre as áreas de cerrado. Esta atividade, é de suma importância para o desenvolvimento da agricultura e da fruticultura regional nesse ambiente. Desta maneira, é importante a caracterização da biodiversidade de abelhas em áreas de interesses agronômico, para a implantação de projetos sustentáveis de Meliponicultura, tanto em áreas de cerrado como em outros ambientes da região. A etapa do diagnóstico socioambiental apoiado no inventário biológico, permite catalogar as espécies ocorrentes, registrar sua distribuição natural e avaliar a paisagem no entorno dos locais onde serão instalados os meliponários, antes de iniciarmos o manejo das abelhas com maiores pretensões. Ao possibilitar o planejamento das ações, fortalecer a gestão ambiental e empreendedora na atividade, com base científica pelo uso sustentável da diversidade de abelhas sem ferrão da região e a flora associada.
Área de Estudos
Uma área de 80 hectares localizada no ambiente de cerrado no entorno de Macapá-AP, sob gestão da empresa Néctar da Amazônia, pioneira na meliponicultura empreendedora da região, está em estudo. Com o objetivo de conhecer as espécies ocorrentes, antes da implementação de um conjunto de meliponários, para estabelecer uma fazenda sustentável para criação de abelhas sem ferrão de maneira empresarial e escala comercial.
O projeto intitulado de “Agrofazenda de Meliponicultura no Cerrado do Amapá”, tem como meta implementar 3 mil colmeias sob manejo e produção de mel em cinco anos, ao consolidar o empreendedorismo da Meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) no Amapá. Os subprodutos esperados são mel, cera, própolis entre outros de interesse para inovação da atividade. O projeto tem sinergia com as ações desenvolvidas junto as comunidades quilombolas da região e visa também fortalecer o arranjo já em desenvolvimento no Amapá para a Meliponicultura.
Metodologia
Coleta das Abelhas nas Flores
As amostragens de abelhas realizadas entre setembro e novembro de 2017. Seguiram procedimentos padrão para estudos da diversidade de abelhas em flores.
A flora associada as abelhas sem ferrão
O cerrado do Amapá possui uma florada exuberante. A vegetação da propriedade em estudo possui pelo menos 70% da área com predominância do cerrado e 30% de áreas úmidas compostas por veredas e ilhas de mata. Com ricas nascentes de água potável.
Preparo das amostras para identificação
Após o procedimento de montagem dos insetos coletados. O estudo segue para observações em lupa dos exemplares coletados. Esta é uma etapa importante para reconhecer as unidades biológicas ocorrentes na área de estudo, permite também, organizar as amostras pelas características morfológicas, com auxílio de chaves de identificação ao apoiar na mais correta identificação possível em nível de gênero e espécie. Ao aprimorar o uso da biodiversidade das abelhas sem ferrão da região. Em níveis mais refinados as amostras são encaminhadas a sistematas de abelhas neotropicais contatados em museus de história natural e universidades.
Resultados
As abelhas potenciais do cerrado Amapaense
A ocorrência das espécies Melipona fulva e Melipona compressipes, propícias à prática da Meliponicultura no cerrado, possibilitam o avanço da atividade nesse ambiente. Além de espécies pertencentes a outros gêneros de abelhas sem ferrão como Oxytrigona, Plebeia, Trigona, Frieseomellita, Cephalotrigona, Partamona e Tetragona. Estas compõem a rica diversidade de abelhas do cerrado amapaense, onde utilizam as árvores como sítio de nidificação.
Impacto sobre a vegetação do cerrado
Desmatamento é um indicador direto de perda das abelhas. Há uma preocupação sobre o desaparecimento das abelhas no mundo. Isso implica severos riscos a produção de alimentos especialmente as frutas, que são importantes para alimentação humana. As ameaças a fauna de abelhas atualmente são: o aquecimento global, os agrotóxicos, a caça indiscriminada para coleta de mel, as queimadas e a derrubada da floresta. O uso sustentável das espécies de abelhas ainda é incipiente, mesmo sendo o Brasil o país mais rico em espécies de abelhas sem ferrão, especialmente na região Amazônica, por ser um centro de biodiversidade do grupo.
Integração da Meliponicultura e Fruticultura no cerrado
O conjunto de informações levantadas permitem a integração da Meliponicultura em consorcio com as agroflorestas de mangaba (Harconia sp), bacaba (Oneocarpus bacaba), buriti (Mauritia flexuosa), açaí (Euterpe oleraceae), cupuaçú (Theobroma cacao) entre outras espécies vegetais de interesse agronômico, ocorrentes no ambiente de cerrado e em propriedades rurais, ao fortalecer a fruticultura tropical da Amazônia e a meliponicultura sustentável na região.
Uma vacina de mel saudável do cerrado
Um resultado muito gratificante, é incentivar o consumo de mel como alimento saudável nas comunidades, onde os estudos são iniciados de maneira que a prática da Meliponicultura, seja consolidada e organizada pelos atores locais.
Considerações
Esta nota é fruto do projeto “Diversidade floral associada aos serviços ambientais das abelhas sem ferrão, produtoras de mel na comunidade Mel da Pedreira, Macapá, Amapá, Brasil”, iniciado em 2011, onde os resultados começam a ser consolidados a partir de uma experiência de mais de 10 anos de trabalho de campo junto as comunidades da região.
Assim, os estudos das interações entre abelhas com as plantas nativas e cultivadas no cerrado do Amapá, são importantes e oportunos. Em função das mudanças climáticas afetarem a fenologia das plantas e da perda de vegetação primária neste ambiente, ao afetar também os sítios de nidificação de muitas espécie de abelhas. Também é possível avaliarmos o impacto positivo desta atividade na produção agrícola, ao apoiar a agricultura tropical e familiar da região, junto as comunidades quilombolas estabelecidas no cerrado amapaense. Os produtos obtidos oriundos do manejo das abelhas como mel, cera, própolis, além de serem comercializados, apoiam pesquisas com estudos farmacológicos e outros ramos da ciência.
“A caça indiscriminada das abelhas pelas gerações passadas, quase levou a extinção as espécies mais oportunas para a produção de mel. Foi difícil localizarmos os ninhos, na ocasião dos estudos iniciais de Richardson Frazão pela UNIFAP na Comunidade do Mel a partir de 2005, com apoio do Conselho de Comunidades Afrodescendentes do Amapá – CCADA, naquela ocasião localizamos apenas 3 colônias. Atualmente alcançamos 419 colônias matrizes aptas a produção de mel” Afirma Elizeu Cirilo da Comunidade Mel da Pedreira entorno de Macapá-AP.
Esta iniciativa permite fortalecer projetos em escala comercial, para a produção de mel de abelhas sem ferrão na região. Apoiar a conservação da biodiversidade de abelhas e plantas no cerrado amapaense. Mitigar os impactos negativos sobre a perda acelerada das populações de abelhas no cerrado, por ser este ambiente, uma fonte preciosa de conhecimento para a comunidade científica e a humanidade.
Contato: ric_frazoni@hotmail.com
Como citar esta Nota Técnica
FRAZÃO, R. F. 2018. Avanços da Meliponicultura apoiam a conservação de abelhas sem ferrão e da flora agroambiental no cerrado do Amapá. Sítio – InfoNéctar nº005/18. Acessado em: http://nectarconsultorianaamazonia.org.