Fundo Amazônia: Desenvolvimento Sustentável Avança no Amapá, com a implementação de novas agroindústrias de beneficiamento da mandioca na RESEX Cajari

Por Richardson Ferreira Frazão

Biól. Me Regional Development (UNIFAP)

Consultor Socioambiental e CEO da Néctar Consultoria

InfoNéctar 023/2019

Figura 1. Comunidade São Tomé beneficiária do projeto “Apoio ao arranjo socioprodutivo da farinha no entorno do Lago do Ajuruxi na RESEX Cajari sul do Amapá” Convênio 16.888 Fundação Banco do Brasil – FBB/Fundo Amazônia/BNDES

Apresentação

A Associação de Moradores e Produtores da Reserva Extrativista do Baixo Cajari – AMPRAEX-CA, com apoio da Plataforma colaborativa Néctar Consultoria, avançou junto ao Edital ECOFORTE EXTRATIVISMO/2016. A AMPRAEX-CA, formalizou o Convênio 16.888 junto a Fundação Banco do Brasil – FBB via recursos do Fundo Amazônia do BNDES pelo projeto “Apoio ao arranjo socioprodutivo da farinha no entorno do Lago do Ajuruxi na RESEX Cajari sul do Amapá” ainda nos limites do município de Mazagão.

Figura 2. Casa de farinha familiar no Lago do Ajuruxi na RESEX Cajari

Nessa oportunidade, a cadeia de valor comunitária da farinha (Mandiocultura), foi diagnosticada em 2016 pela equipe da Néctar. O diagnóstico de campo levantou que pelo menos treze variedades de mandioca são cultivadas nas comunidades. O destaque é para a variedade “Pai Lourenço”, a mais comum na região (Figura 3). Após as visitas participativas junto as comunidades e aos agroextrativistas que moram na parte conhecida como Baixo Cajari na RESEX Cajari. As informações levantadas foram sistematizadas, o que permitiu a equipe formular um projeto de desenvolvimento regional, para apoiar e melhorar a produção artesanal de farinha da região. Durante as visitas avaliou-se a precariedade das casas de farinha familiares e comunitárias (Figuras 2 e 3.1.).

As comunidades diretamente beneficiadas pelo projeto foram São Tomé e São João, as quais receberam a implementação das novas unidades socioprodutivas. Já as Comunidades de Conceição e a Vila dos Freitas, que estão nos limites das comunidades diretamente beneficiadas, também poderão beneficiar sua produção nas agroindústrias, ao buscarem a organização socioprodutiva da tradicional “Farinha artesanal de ralo” do Lago do Ajuruxi na RESEX Cajari.

Figura 3. Hastes de mandioca sendo transportadas para o plantio no Lago do Ajuruxi, RESEX Cajari

Situação das casas de farinha antes da intervenção do projeto

“Encontramos as unidades de produção de farinha bastante precárias e detalhamos um Marco Lógico, para que o projeto atua-se na problemática levantada no campo junto as comunidades, em função das necessidades de melhorar a produção com mais qualidade e melhores condições de trabalho para as famílias, isso é o mínimo que um projeto dessa natureza deve buscar como meta nessas regiões isoladas da Amazônia”. Enfatiza Richardson Frazão, biólogo, consultor socioambiental e CEO da Néctar Consultoria.

Figura 3. 1. Situação das casas de farinha nas comunidades no Lago do Ajuruxi, RESEX Cajari.

Expedição ao Lago do Ajuruxi – Ensaio de produção da farinha

Nos dias 05 a 10 de agosto de 2019 realizamos uma expedição coordenada pela AMPRAEX-CA, aos cuidados de Rubens Amaral (gestor da entidade). A parte de instruções junto aos comunitários seguiu sobre orientação da Néctar, na ocasião da visita foram mobilizados quatro técnicos e cinco assistentes para as instruções em campo. Assim, um ensaio de produção da farinha com uso dos equipamentos adquiridos pelo convênio 16.888 AMPRAEX-CA/FBB, foi realizado nas duas Comunidades contempladas com as Unidades de produção em São Tomé e São João.

Figura 4. Equipe em ação durante a expedição ao Lago do Ajuruxi na RESEX Cajari Sul do Amapá

A RESEX Cajari no sul do Amapá

A RESEX do Rio Cajari, é uma Unidade de Conservação de uso multiplo e sustentável, criada pelo Decreto 99.145 de 12 de março de 1.990, possui características naturais relevantes e representa em primeiro plano uma conquista histórica das populações extrativistas tradicionais do sul do Amapá. Tem por objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais em uma área de 501.771,1014 hectares.

4.1. Mapa da RESEX Cajari, o circulo vermelho representa a área diretamente afetada pelo projeto 16.888.

O Lago do Ajuruxi na RESEX Cajari

O Lago do Ajuruxi (Figura 4), é um gigantesco reservatório de água doce (ambiente lacustre), onde se reproduzem peixes, crustáceos, aves, insetos e inúmeras formas de vida (Figura 5). Esta localizado ao sul da RESEX Cajari. No seu entorno residem inúmeras famílias que vivem da agricultura familiar itinerante. O maior ativo econômico é a produção de farinha de mandioca e a comercialização de açaí em frutos. A partir da foz do Rio Ajuruxi, afluente do Rio Amazonas os associados da AMPRAEX-CA residem no entorno de um lago denominado de Lago do Ajuruxi, um berço lacustre de uma rica biodiversidade vegetal e de fauna já bastante explorada em função do contingente populacional da região, que possui uma área de aproximadamente 125.705,61ha, que se interliga a sua foz no Rio Amazonas. A histórica ocupação da região possibilitou que cerca de 13 comunidades e Vilas com aproximadamente 900 famílias se estabelecem no entorno deste Lago. Estas se instalaram na parte centro-sul da Unidade onde buscaram desenvolver seus meios de vida.

Figura 5. Vista do Lago do Ajuruxi no perimetro da Comunidade São Pedro na RESEX Cajari sul do Amapá

Figura 6. Biodiversidade de flores, frutos e abelhas na Comunidade de São João, Lago do Ajuruxi na RESEX Cajari

Implementação das Casas de Farinha

O plano de implementar duas agroindústrias para apoiar a produção de farinha com maior qualidade, foi o maior foco do projeto. O resultado mais importante é buscar a melhoria do processo produtivo, ao dar mais qualidade e permitir também buscar a confiança do mercado consumidor ao produto final processado.

Figura 7. Casa de Farinha implementada em São Tomé, RESEX Cajari sul do Amapá, com recursos Fundo Amazônia do BNDES via Fundação Banco do Brasil – FBB.

Instruções aos Produtores de Farinha

Os produtores receberam orientações sobre o manuseio dos equipamentos e orientações básicas em boas práticas na produção de alimentos e tópicos de higiene pessoal.

Figura 8. Jovens da Comunidade São João recebem instruções para o uso dos equipamentos da Casa de Farinha

Participação dos Produtores

A atividade permitiu que pelo menos 60 produtores, avaliassem o funcionamento e a melhoria do processo produtivo da farinha nas comunidades São João e São Tomé. Assim, nossa equipe avançou nas orientações básicas e cuidados higiênicos em função das condições insalubres e dos eventuais riscos a contaminação do produto para o consumo humano.

Os jovens das comunidades foram os destaques dos ensaios de produção, em função de serem iniciados na qualificação da produção, para um maior aproveitamento dos produtos derivados da Mandiocultura em suas comunidades.

Figura 9. Jovens da Comunidade de São João em capacitação

Figura 10. Aproveitamento completo da mandioca para produção de farinha na Comunidade de São João.

Veja vídeo do funcionamento do Forno na Comunidade São João na RESEX Cajari

Os fornos elétricos movidos por um motor gerador e adquiridos pelo projeto, permitiram o funcionamento e torração dos primeiros quilos de farinha em processo semi mecanizados na região. A partir desse ensaio de produção a AMPRAEX-CA tem a necessidade de qualificação periódica dos produtores.

Autoavaliação

“Foi desafiador implementarmos esse processo socioprodutivo aqui no Baixo Cajari. Mas entendemos que é importante buscar nesse momento as parcerias para as mudanças propostas e transformar a realidade das comunidades, para uma produção com maior qualidade, frequência, volume e acesso a mercados” Enfatiza Rubens Amaral (Presidente da AMPRAEX-CA).

Figura 11. Comunidade São Tomé durante o processo de produção de farinha e uso dos equipamentos adquiridos pelo projeto

“Entendemos que projetos de desenvolvimento devem enfatizar a vocação das comunidades e valorizar as habilidades locais, ao buscar impactar os Indicadores de Sustentabilidade: (Triple Botton Line) / Agenda 2030/ODS / Indicadores específicos” Enfatiza Richardson Frazão – CEO da Néctar Consultoria.

Figura 12. Ações do projeto apoiam os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS das Nações Unidas – ONU

Fortalecimento das Parcerias

As parcerias com ICMBIO (gestor da Unidade RESEX Cajari), da EMBRAPA (com pesquisas sobre as variedades de mandioca a serem melhor cultivadas na região), o RURAP (extensão rural), a SDR (com políticas públicas para o setor) e o setor empresarial como a Néctar, são importantes para o alcance dos resultados, e para melhorar a comercialização dos agricultores por meio da AMPRAEX-CA. Um caminhão também foi adquirido para escoar a produção dos sociocooperados da AMPRAEX-CA, ao operar com apoio de sua cooperativa a COOPEMARCA, para a comercialização da produção para os mercados consumidores do Amapá.

Próximos Passos

Solenidade de inauguração com representantes das instituições parceiras.
Desenvolvimento da produção e comercialização.

Algumas considerações

O processo iniciado pela AMPRAEX-CA, proporcionou uma ampla participação dos comunitários nas etapas de implementação das ações do projeto 16.888, e deverá buscar consolidar a produção de farinha, com abertura dos mercados publico e privado para a “Farinha do Lago do Ajuruxi”, ao beneficiar mais de 100 produtores entre mulheres, jovens e homens na região.
A AMPRAEX-CA, busca alcançar os padrões exigidos pela DIAGRO/AP e MAPA, para dar um salto na qualidade e produção de farinha da região para os centros de consumo no Amapá.
A região possui muitos jovens, os quais precisam ampliar as perspectivas de inclusão socioeconômica na região, daí a produção de farinha em pequenas unidades de beneficiamento serem uma oportunidade para melhorar indicadores de Sustentabilidade em função do IDH do Município de Mazagão ser dos mais baixos da região norte do Brasil.
A farinha e seus derivados como a Tapioca e o Tucupi, passam a ser melhor aproveitados nas comunidades beneficiadas com o projeto, pois, possuem valor agregado.
Também é necessário fortalecer as parcerias governamentais por meio de políticas públicas para maiores avanços no arranjo aqui proposto.
O impacto das Unidades de produção de farinha atinge pelo menos quatro comunidades São Tomé, São João, Conceição e Vila dos Freitas. Isso representa pelo menos 100 produtores beneficiados direta e indiretamente na região.
A farinha tem capacidade estratégica de ocupação, trabalho e renda para mais de 80% das famílias do Baixo Cajari na região conhecida como Lago do Ajuruxi na RESEX Cajari no sul do Amapá, sendo também unidade monetária nas comunidades com liquidez diária.
A empresa Néctar Consultoria, é uma das parcerias para apoiar com ensaios de comercialização para as primeiras vendas via sua plataforma colaborativa na internet.

Agradecimentos

A AMPRAEX-CA, Ao Fundo Amazônia/BNDES, a Fundação Banco do Brasil – Edital Ecoforte Extrativismo, ao ICMBIO Resex Cajari e a todas as famílias das Comunidades de São João, São Tomé, Conceição e Vila dos Freitas do Lago do Ajuruxi pela acolhida e vontade de trabalhar. A equipe da Néctar Consultoria nas pessoas de Sybelle Rabelo (Diretora Geral), Ana Sá (contadora), Saulo Garcia (Engenheiro Florestal) e Jamile Nascimento (Gestão Ambiental) pela pesquisa de campo sobre o mercado da farinha e levantamento bibliográfico. Ao Luciano Picanço (analista jurídico), ao Joandro Pandilha (pelo apoio a gestão socioambiental junto a AMPRAEX-CA) e Alyson Lucas (Tecnologia da Informação e suporte a mídias digitais pela Néctar Consultoria). In memoriam ao meu tio Raimundo Cardoso pela passagem de seu aniversário 02/08/2019.

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Anexos Fotográficos da expedição