Sustentabilidade e Sociobiodiversidade das Abelhas na Amazônia
InfoNéctar nº004/18
Comercialização de mel apoia o empreendedorismo verde por jovens mulheres do Arquipélago Fluviomarinho do Bailique em Macapá no Amapá
A produção de mel pela Apicultura (criação de abelhas com ferrão) é uma prática milenar. Esta atividade foi introduzida no país com a vinda da família real de Portugal pela espécie Apis mellifera ibérica, não para produção de mel, mas para a produção de velas de cera branca para as Missas da Corte a partir de 1838 (Kerr et al., 2001). Na metade do século XX a abelha Apis mellifera, já estava introduzida no Brasil e se expandiu no território nacional, onde desde então ficou popularmente conhecida como abelhas africanizadas e ou sicilianas. Em alguns lugares abelhas de esporão. Porque ferra!
O Brasil, é um dos grandes exportadores de mel pela Apicultura. Esta atividade está bem desenvolvida no Nordeste e no Sul do país. Segundo Vidal (2017), o consumo per capta de mel no Brasil ainda é baixo, medido em miligramas/pessoa ano. Assim, os indicadores do consumo de mel no Brasil levantados em 2013 apontaram um consumo de 0,09kg/pessoa ano. Em países como a Nova Zelândia o consumo chega a 2,02kg/pessoa ano. Nos Estados Unidos maior comprador do mel brasileiro o consumo chega a 0,67kg/pessoa/ano.
Sob o aspecto do desenvolvimento sustentável, a Amazônia possui um potencial a ser explorado com a produção de mel de maneira organizada. Especialmente pela imensa cobertura florestal da região. Ao permitir que as atividades de produção de mel pela Apicultura e a Meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) possam ser fortalecidas, ao apoiar a conservação de áreas agroflorestais. Desta maneira as espécies florestais de potencial agronômico e as essências florestais, são beneficiadas pelo serviço regulatório da polinização. Este serviço é realizado eficientemente pelas abelhas nas plantas frutíferas da região como açaí, bacaba, taperebá, andiroba entre outras, importantes ao consumo humano das populações da região Amazônica e do mundo.
No Estado do Amapá especialmente nas Ilhas Estuarinas do Arquipélago do Bailique, a 12 horas de barco de Macapá. A Apicultura tem se estabelecido como atividade primária na Comunidade de Arraiol. Esta tem possibilitado que jovens mulheres, filhas da região tenham a oportunidade de fortalecer o arranjo de comercialização do mel no mercado local. Isso permite gerar oportunidade de trabalho e renda para jovens como Elda Costa (23 anos) que também é técnica em Apicultura e já buscou a formação em Meliponicultura ao ampliar seus conhecimentos para o mel das abelhas sem ferrão.
Elda Costa e sua sócia Marcia do Carmo buscam construir uma rede de consumidores ao mel do Bailique, cuja origem floral é a floresta de várzea. As sócias desenvolveram uma marca própria a Amazom Mel (Figura 2), para a comercialização do mel em parceria com os produtores da Comunidade de Arraiol. A parceria permite que pelo menos 1 vez por mês elas recebam a produção em potes devidamente rotulados e envasados pela Unidade de Beneficiamento de Mel estabelecida na Comunidade de Arraiol e comercializam na capital Macapá no Amapá.
As vendas são realizadas diariamente pelas sócias Elda e Márcia, onde conseguem administrar o seu pequeno e sustentável negócio, desde a gestão da compra até a comercialização. Isso permite manter uma assiduidade junto aos produtores de sua região para alcançar um mercado duradouro para a produção de mel do Bailique.
“Eu fecho os pedidos com os produtores da Comunidade e busco atender as demandas que são solicitadas. Mantenho um estoque mínimo de mel em Macapá, onde também exponho os produtos em feiras, eventos e levo pequenos lotes para espaços como a universidade do Estado do Amapá – UEAP” Informa Elda.
Elda pretende cursar Gestão Ambiental e para isso mora, trabalha e estuda em Macapá no Amapá, assim parte da remuneração com as vendas de mel é utilizada para manter os custos de estadia na cidade.
“Estou aguardando o resultado do último ENEM. No caso da aprovação, pretendo manter as vendas e entregas por meio de parcerias que acreditam nessa iniciativa, e assim viabilizar os custos de cursar uma universidade” Enfatiza Elda.
O desenvolvimento sustentável é a chave para o trabalho da Elda e da Márcia. Pois, as abelhas desempenham um papel importante na manutenção das florestas tropicais, e permitem gerar oportunidades para as pessoas, ao valorizarem o grandioso serviço ambiental das abelhas para a humanidade. A polinização e manutenção florestal.
Essas ações apoiam a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) das Nações Unidas – ONU nas suas Metas 7 Qualidade de Vida e respeito ao Meio Ambiente e a Meta 8 Todo Mundo trabalhando pelo desenvolvimento. Estas Metas fortalecem os processos de inclusão de mulheres nas atividades socioprodutivas e socioeconômicas em sinergia com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO na América Latina e Caribe.
O mel é o produto das abelhas melíferas. Na Amazônia brasileira ocorrem mais de 300 espécies de abelhas sociais e sem ferrão, onde muitas dessas espécies prestam para a produção de mel pela prática da Meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) sendo uma opção para os iniciantes no manejo das abelhas (ver Frazão, 2013).
Vamos apoiar a economia solidária, sustentável e ecologicamente humana?
Se SIM entre em contato com Elda e a Márcia pelos seguintes números 096-991434019 (Elda) e 096-99144-8026 (Márcia) (WhatsApp).
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Por Richardson Frazão, biólogo, mestre em desenvolvimento regional
Referências Bibliográficas
FRAZÃO, R. F. Manual de Meliponicultura – Abelhas Nativas e Populações Tradicionais. 1ª Ed. 50p. Belém-PA, 2013.
Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) – Organização das Nações Unidas – ONU. Acessado em https://nacoesunidas.org/tema/odm/
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO http://www.fao.org/brasil/noticias/detail-events/pt/c/1095572/
KERR, W. E., CARVALHO, G. A., DA SILVA, A. C., DE ASSIS, M. G. P. Aspectos pouco mencionados da biodiversidade amazônica. Parcerias Estratégicas p.20-41. Brasília-DF. 2001.
VIDAL, M. F. . Desempenho da Apicultura nordestina em anos de estiagem. Caderno Setorial ETENE Banco do Nordeste. Ano 2, n. 11, julho de 2017. (1-9). 2017.
Boa iniciativa da Elda, além de divulgar sua marca e a venda de Mel,contribui com a expansão da economia solidária frente as comunidades tradicionais da Amazônia em especial a do Bailique.